19.2.16

Diabolô

Celso de Almeida Jr.


Publicado no Blog Ubatuba Víbora
Coluna do Celsinho
19 de fevereiro de 2016

É sempre assim.
Quando o médico pede um novo Raio X do pulmão, lá está ele.
Parado, há quase 40 anos.
Marca boa; formato diabolô.
Chumbinho de espingardinha de pressão.
A história foi a seguinte...
Na rua Cunhambebe éramos vizinhos do Cícero Assunção, irmãos, irmãs e pais queridos.
No terreno deles, um lindo pé de jambo, fruta azedinha, gostosa, estendia seus galhos também para o nosso terreno, garantindo sombra e frutas sobre nossas cabeças.
Minha diversão era, com a espingardinha, mirar no caule, derrubar o jambo e me deliciar.
Num dia, criança, fazia isso com um amigo, quando chegou o Silvinho Brandão com um arquinho e flecha de ponta de borracha.
Peguei o brinquedo, mirei e lancei a flechinha no amigo que segurava a espingarda.
Ele, sem pensar, revidou.
O detalhe é que revidou com um tiro, que levou o chumbinho a furar o meu peito, desviar numa costela e ficar lá, quieto.
Minha primeira reação foi gritar pro Marquinho Teixeira Leite, o outro vizinho, já que meus pais não estavam em casa.
Até hoje, o Marquinho, dando gostosas risadas, lembra de minha exclamação:
"Ele me matou!!! Eu morri!!!"
Levou-me para a Santa Casa.
De lá, segui para São Paulo, cujo médico contou que tinha levado um tiro de espingarda de cartucho quando era criança e mostrou que ainda tinha - não um - mas vários chumbinhos no corpo, inclusive na orelha.
Toquei sua pele, senti as bolinhas de chumbo e fiquei chateado, já que àquela altura sentia-me um John Wayne ferido, sem concorrentes, herói do filme.
A conclusão foi que era melhor deixar o chumbinho lá, evitando uma cirurgia traumática. 
Meu companheiro de tantas décadas, portanto, seguirá comigo para a eternidade.
Claro que perdoei meu colega atirador, que ficou muito abalado com aquela história.
O saldo de tudo isso é que, de lá pra cá, compreendi que, num descuido, crianças podem arrumar grandes confusões.
O leitor que conhece minha família pode imaginar a aflição de meus pais e o lamento por terem me deixado brincar com aquela espingarda aparentemente inocente.
E se o tiro acertasse um olho?
E se a costela providencial não tivesse desviado a trajetória do chumbinho?
E se..., e se..., e se...
Pois é, prezado leitor, querida leitora.
Sempre há riscos nas muitas etapas do desenvolvimento de nossas crianças e jovens.
É claro que não devemos deixá-los isolados, em verdadeiras "bolhas" de proteção.
Mas, os desdobramentos de certas ações, brincadeiras, atividades, podem apontar para um final não feliz.
Nesse sentido, seguir o lema dos escoteiros contribui para a nossa paz:
"Sempre alerta!!!!" 

Jambo Bwana
Boney M